sábado, 8 de março de 2014

Os Garis, o Carnaval e o "Vergonha da Zona Sul"

Em 2010, comentamos aqui no nosso manifesto sobre o bloco "Vergonha da Zona Sul":

O carnaval é e sempre será um ato politico. (Como demonstrou bem nesse ano de 2010 o bloco “Vergonha da Zona Sul” que levou a banda de catadores e mendigos para a praia de Ipanema)

Então, em 2014 além de tudo o que aconteceu, esse bloco saiu de novo, talvez sem saber da existência do primeiro.! de uniforme laranja e vassoura na mão!  Mas de certa forma eles botaram a Zona Sul na parede. A luta dos garis foi linda. Nosso amigo Sorriso, aquele que sambava com uma alegria contagiante no final da Sapucaí todos os anos, e era celebrado pelos RJTVs da vida, para dar legitimidade a seu espetáculo , foi pra outra passarela acompanhar milhares de garis, os 300 que são milhares, que conquistaram uma grande vitória, e com muita sagacidade entenderam o poder que tem nas mãos.

Estamos todos começando a entender o poder que o carnaval tem, ou seja, o poder que a vida tem; pois carnaval é a própria vida em seu estado bruto. Uns querem lapidá-la para ter seu valor de troca. Já outros... querem ser nômades.

Saravá Garis!!

Fotos: Fanfarra do M.A.L




#OcupaCarnaval tá lindo demais!!.

Confira todas as marchinhas clássicas atualizadas para o atual contexto politico.

http://www.youtube.com/channel/UCf51zCmain96AhtxC_uow3w


#Nãovaitergolpe - invasão do carnaval no monumento dos pracinhas

Taí..................

Bloco Pula Roleta

Taí. Carnaval Nômade na veia


quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Liberdade, Folia e Luta: contradições e desafios do carnaval do Rio de Janeiro

Liberdade, Folia e Luta: contradições e desafios do carnaval do Rio de Janeiro

 

http://capitalismoemdesencanto.wordpress.com/2014/02/24/liberdade-folia-e-luta-contradicoes-e-desafios-do-carnaval-do-rio-de-janeiro/

*Por Diogo Eduardo e Hugo Duarte.

“O carnaval é e sempre será um ato político. É a incorporação da arte no cotidiano. Lutar para preservar sua potência é lutar por uma rua que nos é sempre tirada. Avancemos foliões! Viva o carnaval, viva o Zé Pereira e o Saci Pererê. Viva o sorriso doce dos que desobedecem. Em tempos de tanques nas ruas, não retrocedamos, com a certeza de que um dia o exército de palhaços vencerá!” (Manifesto do Carnaval de Rua da Desliga dos Blocos do Rio de Janeiro)
A maior festa popular do país está prestes a começar. Confetes, serpentinas, fantasias e desfiles vão preencher o Sambódromo e as ruas da cidade que é hoje a grande vitrine mundial da folia. Os números retratam um pouco as dimensões desse evento: em 2013, segundo os dados da Secretaria de Turismo do Rio de Janeiro, o carnaval atraiu mais de 5,3 milhões de foliões, dos quais mais de 1 milhão e 200 mil eram turistas, gerando uma renda estimada em 848 milhões de dólares. Além dos tradicionais desfiles das Escolas de Samba, a cidade reuniu 492 blocos autorizados pela prefeitura, em cortejos pelos mais diversos bairros da capital.


O carnaval carioca atrai corações e mentes não apenas de Pierrôs e Colombinas, mas principalmente do poder público e da iniciativa privada que, a cada ano, vem demonstrando mais afinidade na transformação da folia em um produto, cujo retorno financeiro não para de crescer. Os patrocínios e as parcerias entre o Estado e as empresas privadas estão assumindo a marcação e ditando o compasso da festa. As Escolas de Samba são exemplos concretos desse horizonte nebuloso. No último ano, a Vila Isabel foi campeã com o samba-enredo “A Vila canta o celeiro do mundo”, patrocinada pela Basf, empresa química multinacional. O vice-campeonato ficou com a Beija-Flor, responsável por trazer para a avenida a história de uma raça de cavalo, financiada em cerca de R$ 6 milhões pela Associação Brasileira dos Criadores de Cavalo Mangalarga Marchador.

A Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa) não proíbe o financiamento privado, restringe somente a apresentação de marcas ou de qualquer tipo de merchandising, implícito ou explícito, na passarela, com o objetivo único de proteger os parceiros comerciais da Rede Globo, que detém os direitos de transmissão dos desfiles. Além dos patrocínios e dos repasses realizados pela maior empresa de telecomunicações do país, as Escolas contam ainda com contribuições dos governos estadual e municipal. A renda das agremiações é complementada também, em menor escala, por shows, ensaios, bailes e eventos, ao longo do ano.
A falta de autonomia e de liberdade criativa das Escolas de Samba na escolha dos sambas-enredo é apenas a ponta do iceberg do processo de mercantilização e profissionalização da festa, que ganhou novos contornos a partir da década de 1980 e que, mais recentemente, atinge também os blocos de rua da cidade. Em 2009, a Prefeitura do Rio de Janeiro lançou um edital para firmar uma parceria público-privada para atuar na organização do carnaval de rua da cidade. Desde 2010, a Ambev assumiu a concessão, investindo em infraestrutura e ganhando direitos de propaganda e de comercialização da cerveja Antártica.
Carnaval monocromático, patrocinado pela Ambev.

A parceria ganhou o apoio da Sebastiana, liga formada pelos maiores blocos da Zona Sul, de Santa Teresa e do Centro e que atualmente é a principal afilhada do poder municipal. Outros blocos estão surgindo e novos grupos já estão sendo formados para representá-los, como é o caso da Liga Carnavalesca Amigos do Zé Pereira, que defende a profissionalização como um caminho sem volta. Grande parte dos novos foliões que despontam no cenário acena para pegar carona no percurso que já vinha sendo percorrido por alguns blocos tradicionais da cidade nos últimos anos. Captar recursos públicos e privados e garantir a apresentação em casas de shows da cidade e do país passou a ser a primeira meta na pauta desses foliões.

Os desdobramentos do gigantismo e da rentabilidade do carnaval carioca estão diretamente ligados às demandas da sociedade capitalista, que procura mercantilizar a vida em todas as esferas das relações sociais. A folia, portanto, se insere na lógica da indústria cultural, que transforma as formas de expressão e de representação da realidade em um produto a ser comercializado.
Vale lembrar que o Rio de Janeiro não está isolado e que essa apropriação da cultura pelo capital poder ser também percebida em outros carnavais pelo país, com as particularidades históricas e os elementos artísticos específicos de cada evento. As cordas e os abadás presentes de forma ostensiva no carnaval de Salvador, por exemplo, demonstram a dimensão desse processo de mercantilização e servem inclusive como alerta para os riscos cada vez maiores de expansão da privatização da folia.

Esse cenário desolador pode levar a sedimentação de generalizações equivocadas sobre o carnaval, relacionadas principalmente à romantização das origens ou à idealização dos significados políticos da festa. Não são raros os argumentos daqueles que defendem um retorno ao passado distante da folia, como se o carnaval tivesse sido constituído por uma essência de harmonia, liberdade e igualdade plena. Também é recorrente o entendimento do carnaval como uma mera válvula de escape das tensões sociais, destinada somente à manutenção da ordem. Essa tese conservadora parte do pressuposto que a folia teria apenas o papel político de controle social, o que de certa forma acaba por desconsiderar as contradições e as formas de resistências construídas ao longo do tempo.

Experiências concretas de resistência: Cordão do Boi Tolo e Desliga dos Blocos
No Rio de Janeiro, há um fenômeno que podemos considerar a faísca e uma das saídas para os impasses impostos pelo capital ao carnaval. Em 2006, vários foliões comparecerem à Praça XV para o desfile do Cordão do Boitatá. Ao não encontrarem o bloco, que havia mudado a data de seu desfile para evitar multidões, surgiu de forma espontânea um dos grupos que levanta de maneira mais forte a bandeira contra a mercantilização do carnaval e da defesa da liberdade criativa das manifestações culturais populares, o Cordão do Boi Tolo. Desde seu surgimento, o Boi Tolo se notabilizou por fazer uma folia que percorre a cidade, sem trajetos definidos, sem cordas e sem limites para a expressão libertária da festa.

Já em 2009, o governo de Eduardo Paes lança os primeiros decretos para regulamentar o carnaval. O poder municipal passa a exigir que os blocos peçam autorização para desfilar, preenchendo um requerimento que deve incluir dados do desfile como o público estimado, o local de início e término, se há patrocinador, carro de som, etc. A falta de diálogo tem sido a marca dessa normatização, pois os canais de comunicação ficam restritos ao cumprimento das regras burocráticas, cabendo à Prefeitura a tutela para definir quais blocos desfilarão. A falta de debate e de critérios claros representa o cerceamento da liberdade de organização dos blocos, através da imposição de medidas arbitrárias que têm por objetivo de favorecer os interesses privados dos patrocinadores e das empresas vencedoras das licitações.

Esse processo foi acompanhado pelo surgimento da Desliga dos Blocos do Rio Janeiro, reunindo o Boi Tolo e outros blocos para amplificar a resistência à mercantilização do carnaval e defender a liberdade criativa das manifestações populares. A Desliga passou a atuar na organização de atos irreverentes e questionadores, através das Bloqueatas e das Aberturas do Carnaval Não Oficial. Nos últimos eventos, passaram a ecoar não somente as bandeiras relacionadas diretamente ao carnaval, mas também às pautas de outras lutas sociais, como as críticas à Copa do Mundo de Futebol e os questionamentos aos governos municipal e estadual.

O potencial transformador do carnaval
 A recente experiência histórica do Cordão do Boi Tolo e da Desliga dos Blocos demonstra a existência de reais possibilidades de resistência e de construção de uma autonomia popular frente à mercantilização e à domesticação da folia pela indústria cultural. Se é inegável a instrumentalização do carnaval como meio para o exercício do controle social, é também fundamental o reconhecimento do potencial transformador dessa festa popular. Longe de ser um espaço homogêneo, harmônico e distante das disputas políticas, ele é terreno da luta de classes e de conflitos sociais, sendo marcado, portanto, pela dialética relação entre dominação e resistência.
"Vai ter Carnaval, mas não vai ter Copa".
“Vai ter Carnaval, mas não vai ter Copa”.

O carnaval não é somente uma inversão dualista e temporária do social, representada pelo caráter simbólico das máscaras e das fantasias que, por fim, estariam fadadas a justificar de maneira conservadora o mundo. Ele é um instrumento de ação que pode fazer uso da quebra das hierarquias e da crítica irreverente e satírica da realidade para a transformação social. É por isso que deve ser ampliada a tarefa de incorporação de pautas políticas e sociais nos dias de folia.

Os desafios são gigantescos e os meios de resistências certamente não estão restritos à atuação do Boi Tolo e da Desliga. Novos canais de atuação devem ser criados, sem perder de vista a formação da necessária unidade. É preciso fazer com que a criatividade da festa seja também o combustível para a construção de uma sociedade justa e igualitária para além da quarta-feira e do Rio de Janeiro.

Blocos no Rio decidem sair à revelia sem pedir autorização à Prefeitura

http://carnaval.uol.com.br/2014/blocos-de-rua/noticias/2014/01/17/blocos-no-rio-decidem-sair-a-revelia-sem-pedir-autorizacao-a-prefeitura.htm


Blocos no Rio decidem sair à revelia sem pedir autorização à Prefeitura

Blocos se rebelam contra regras impostas pela Prefeitura para organizar o Carnaval de Rua no Rio de Janeiro e decidem sair à revelia sem pedir autorização. E não são poucos os grupos carnavalescos rejeitados que não integram a lista do guia oficial da cidade.

Diogo Carvalho dos Santos, um dos organizadores do Cordão do Boi Tolo
"Somos blocos piratas porque a gente não pede autorização e sai à revelia. A gente simplesmente exerce o direito que a Constituição nos garante de sair e ocupar as ruas livremente, mas não fazemos coisas proibidas. As pessoas são livres para se organizarem pacificamente nas ruas", disse ao UOL Diogo Carvalho dos Santos, 31, um dos organizadores do Cordão do Boi Tolo.
O Boi Tolo é um bloco que nasceu espontaneamente em 2006 na Praça XV, no centro do Rio, formado por pessoas que chegaram no dia errado do desfile do Cordão do Boitatá, que havia mudado a data. "Alguns foliões foram, inclusive eu. Apareceu um pandeiro, um tamborim, uma caixa, um surdo e um trompete, e fizemos um bloco. Éramos os tolos que foram enganados pelo Boitatá", brincou. A partir daquele ano, o bloco autogestionado sai todos os Carnavais sem muito horário definido.

"O Boi Tolo não pede autorização e nem vai pedir. A gente entende que para a ocupação do espaço público precisa apenas de aviso com antecedência ao poder público", argumentou.

Desliga dos Blocos
O Boi Tolo não é um caso único e, para reunir todos os blocos e grupos carnavalescos, nasceu a Desliga dos Blocos, um coletivo que reúne desde 2009 foliões e blocos contrários às normas da Prefeitura.
Apesar de ser um movimento paralelo ao Carnaval de Rua oficial, não é marginalizado ou menosprezado pelos foliões. Para se ter uma ideia, no último domingo, dia 12, a Desliga promoveu na Praça XV a Abertura do Carnaval Não-Oficial que reuniu, segundo estimativas do coletivo, cerca de 6 mil pessoas.
"Somos uma anti-liga, a gente é contra as ligas oficiais. Esse é o espírito da Desliga, diversos grupos e pessoas definindo igualitariamente o que a gente vai fazer pelo Carnaval", disse Diogo, um dos integrantes.

O ano de 2009 foi simbólico para a criação da Desliga, explica um dos agitadores. Foi a primeira vez que a Prefeitura do Rio lançou editais e portarias para organizar o Carnaval de Rua. "Não era apenas uma forma de organizar a festa, a gente percebeu também que era uma forma de mercantilização. Decidem quem sai e quem não sai, exigem uma série de medidas que são responsabilidade da Prefeitura como banheiro, limpeza e segurança. Um bloquinho de 50 ou 100 pessoas num bairro não tem condição de bancar como os grandes blocos", criticou.

Diogo garantiu que, mesmo saindo à revelia, nunca enfrentaram problemas com a polícia ou choque de ordem e nem mesmo tiveram registros de confusão ou baderna. "Fala-se que o Carnaval é o grande vilão do xixi na rua, mas a cidade não tem banheiro público durante o ano. Para se eximir da responsabilidade, botam a culpa nos mijões. É uma contradição, pois a festa é patrocinada por cervejarias e depois criminalizam o folião".

Espírito das manifestações
Como um coletivo livre, a Desliga não tem oficialmente o número de blocos que a compõem. Mas tem os que não faltam nunca como o Cordão do Boi Tolo, o Prata Preta, o Frevo Prato Misterioso, Sambamantes, além de integrantes da Orquestra Voadora.
São pequenos e médios blocos que dão força à Desliga que segue o espírito da onda das manifestações em junho que levaram milhares de pessoas às ruas. "O Carnaval de Rua também é uma manifestação política. Não é só botar o nosso bloco na rua, as grandes bandeiras são contra a mercantilização do Carnaval e da cidade, e pela liberdade criativa no espaço público", defendeu.
Como o coletivo é uma autogestão e informal, ainda não tem uma programação oficial definida pela Desliga durante o Carnaval. Cada bloco é responsável pela sua data de desfile.
O Boi Tolo sairá no Domingo de Carnaval ainda a confirmar a hora. Em 2013, o bloco tocou por 13 horas ininterruptas, em uma marcha da Praça XV até o Aterro do Flamengo passando pelas ruas do centro do Rio. "Foi uma grande festa sem fim", lembrou.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Manifesto do Carnaval Nômade

A retomada do carnaval de rua do rio de janeiro é um processo histórico e singular. Alguns se lembram das pequenas aglomerações que começaram a ressurgir no final do século passado, em diversos lugares da cidade, relembrando marchinhas, apresentando a própria noção de carnaval para uma nova geração. Esse momento foi mais que a retomada do carnaval, ele foi o momento da retomada da rua, de uma rua que andava a muito esquecida. Sem nenhum esforço do poder público, sem o patrocínio de uma marca de cerveja, sem qualquer cobertura do rj tv, espontânea e coletivamente a multidão tomou à força o que já lhe pertencia: nosso espaço comum.

Nos últimos anos, o crescimento exponencial do número de blocos e de foliões traz uma série de dúvidas em relação ao nosso carnaval. Primeiro porque certos blocos começaram a ficar superlotados, impedindo algumas pessoas de se divertirem, já que ficou impossível ouvir o som dos instrumentos, cantar e dançar. Segundo, porque o Estado e o mercado perceberam o que lhes era óbvio: um precisa controlar a multidão que toma a rua e o outro precisa usá-la para ganhar dinheiro. 2010 trouxe ao auge esse processo de ordenamento e controle: o choque de ordem e uma publicidade abusiva que invade nossas ruas.

Essa tentativa nunca será totalmente efetiva. Porque nós, que não somos nem o Estado nem o mercado, temos a eterna capacidade de nos reinventar. Porém, temos pela frente um desafio histórico de lidar com esse dilema entre o crescimento e a espontaneidade sem qualquer tipo nostalgia ou elitismo. Criar nossas táticas de fuga é manter a verve viva. E isso não significa recusar as massas, mas transformar a massa em multidão que toma a rua de maneira ingovernável, múltipla e criativa.

Não foi preciso escrever esse manifesto para que isso já aconteça. Ao contrário são os próprios sinais da resistência que influem nessa escrita a milhares de mãos. A multiplicação dos blocos em número, ritmo, trajeto e formato, já nos mostra essa criatividade infinita que se esparrama pelas esquinas da cidade e que a prefeitura agora teima em querer controlar. Algumas experiências podem iluminar nosso caminho.

Entre tantas, cito uma que nasce do próprio dilema. Um grupo de foliões que acordou cedo para pular o carnaval se viu enganado: o bloco em que iam tinha mudado de horário propositadamente para que menos pessoas o acompanhassem. Em vez de voltar pra casa eles criaram outro bloco, ali , na mesma hora. Chegou um bumbo, chegou um trompete. A festa começou e dura até hoje. Nos anos seguintes, saindo do mesmo lugar, os foliões inventaram a ocupação de novos espaços, novas acústicas e experiências que vem se tornando memoráveis nos últimos carnavais. A cidade estava aberta, e foi ocupada. Essa experiência lisérgica é a faísca.

Devemos ser nômades. Ocupar a rua desgovernadamente, criar novos caminhos que se bifurcam, inventar o que não foi inventado, criar novas identidades, mudar de endereço. O nomadismo é a redenção da alegria. É a garantia de não ser enquadrado. Devemos ficar na rua o tempo todo, sem rumo, cantando e dançando, sem parar.

Para isso esse manifesto sugere algumas táticas:

  • Ocupar áreas esvaziadas e subutilizadas durante o carnaval, como grande parte do centro, gamboa e diversos bairros do subúrbio.
  • Sair sem rumo do mesmo local e horário dos grandes blocos, se transformando em sub-blocos. Sub não de menor, mas de abaixo da superfície, que se infiltra nas profundezas da cidade.
  • Saber a hora de mudar de horário, mudar de nome, mudar de trajeto. É se desapegar da tradição e reinventar-se constantemente
  • Recusar o cadastramento da Prefeitura. Somos apenas um grupo de pessoas cantando e dançando na rua. Quem pode nos proibir?
  • Zombar do cerco dos grandes meios de comunicação. Recusar o esteriótipo e o esvaziamento de sentido constante dos jornalistas.
  • Intercâmbio de blocos. Que tal a Orquestra Voadora em Bangu e o Virilha de Minhoca no Aterro? (é só um exemplo, mas quem não conhece o virilha de minhoca deveria conhecer)

Conversando com um bêbado na rua ele nos sugeriu um nome: A Desliga dos Blocos do Rio de Janeiro. Foi fundada na mesma hora. Sem Presidente ou Tesoureiro. Filiação voluntária e automática. A Desliga não é contra o carnaval certinho. Até porque nele ainda há espaço pra muita diversão, alegria e catarse coletiva. Sem ele as ruas não estariam tão cheias de pessoas fantasiadas. A Desliga é a válvula de escape para aqueles que querem mais. E todos estão convidados.

A Desliga também não é contra o poder público, mas acha que poder público deve fazer o que lhe convém. Em vez de cadastrar blocos, deve criar áreas livres de folia em diferentes bairros, em diferentes dias do carnaval para que os nômades possam passar. E vez de aumentar a passagem, deve oferecer transporte gratuito e ininterrupto para todos, facilitando a circulação e a integração da cidade. (Vale dar uma olhada: http://tarifazero.net)

O carnaval é e sempre será um ato politico. (Como demonstrou bem nesse ano de 2010 o bloco “Vergonha da Zona Sul” que levou a banda de catadores e mendigos para a praia de Ipanema). É a incorporação da arte no cotidiano. Lutar para preservar sua potência é lutar por uma rua que nos é sempre tirada. Avancemos foliões nômades !! Viva o carnaval, viva o Zé pereira e o Saci pererê, Viva o sorriso doce dos que desobedecem.... Em tempos de tanques nas ruas, não retrocedamos, com a certeza de que um dia, o exército de palhaços vencerá!!

Ass: foliões nômades, palhaços anônimos, Comitê Ambulante da Desliga dos Blocos do Rio de Janeiro

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